No vídeo, a ativista Kimberle inicia uma dinâmica que os
primeiros nomes citados por ela para o público são conhecidos, pois metade das
pessoas permanecem em pé. Então ela cita outros nomes como Michelle Cusscaux,
nesse momento algumas pessoas começam a sentar.
Na continuidade dos nomes, ela cita Aura Rosser e as
demais pessoas começam a sentar, ficando somente 4 pessoas em pé. O primeiro
grupo citado são homens afro-americanos que sofreram violência policial nos
últimos 2 anos e meio.
Eric Garner, Freddie Gray, Mike Brown.
A dinâmica diz o quanto as pessoas, tanto no auditório,
quanto no mundo, não têm conhecimento do que está acontecendo no mundo. Então,
ela menciona mais alguns nomes e apenas 4 pessoas continuaram de pé,
demonstrando reconhecer os nomes citados.
O que Kimberle quer mostrar é a diferença de como as
mortes de mulheres negras são notificadas e midiatizadas em detrimento de
homens negros. As mobilizações, os manifestos, acontecem mais quando são os
homens, já em relação as mulheres (principalmente em relação à violência doméstica),
particularmente não acontece quase nada, pois os noticiários entram com mais
ênfase quando se trata de homens. Já com as mulheres, são colocadas em
esquecimento. Elas não são assistidas como deveria, não são levadas em
consideração e não há repercussão.
O termo interseccionalidade nos permite compreender
melhor as desigualdades e a sobreposição de opressões e discriminações
existentes em nossa sociedade. Pode ser considerado como uma ferramenta
analítica importante para pensarmos sobre as relações sociais de raça,
sexo e classe, e os desafios para a adoção de políticas públicas
eficazes.
Para entendermos como esses sistemas de opressão têm
impactos diferentes em diferentes pessoas, precisamos lembrar que existem
naturalmente diversas diferenças de gênero, cor da pele, idade,
altura etc entre nós. Mas muitos indivíduos ou grupos, apenas por
pertencerem a essas “categorias”, são submetidos a uma série de discriminações,
preconceitos e opressões, como de classe, de gênero, de geração, de raça/etnia e de
orientação sexual.
Segundo Crenshaw ativista, interseccionalidade é “… uma
conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e
dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente
da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros
sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as
posiçõıes relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras.
Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas
específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo
aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento” (2002).
Para a professora, é através desse termo que se explica
como os eixos de poder relacionados a raça, etnia, gênero e classe
estruturam os terrenos sociais, econômicos e políticos em que vivemos.
Crenshaw também explica que esses
eixos são distintos e excludentes. Por exemplo, o racismo é diferente
do patriarcalismo, que por sua vez é diferente da opressão de classe.
Mas, frequentemente,
eles podem se interligar criando complexas interseccções em
que dois, três ou quatro eixos acabam se cruzando.
Assim, sempre que nos aventuramos a
estudar o pensamento feminista negro, sem dúvidas, em algum momento,
encontraremos o conceito de interseccionalidade que se
tornou indispensável para pensar o lugar dessas mulheres na sociedade.
Nos últimos anos, o número de autoras
interessadas em alimentar e fortalecer a teoria da interseccionalidade
aumentou consideravelmente. Podemos citar alguns nomes mundialmente
conhecidos: Audre Lorde (1983), Bell Hooks (1984), Patricia Hill Collins
(1990), Avtar Brah (2006), Angela Davis (2017).
A produção sobre o assunto também é marcante
no Brasil por nomes como Sueli Carneiro (1985), Luiza Bairros (1995); além
de Lélia Gonzales (1988) e Beatriz Nascimento (1989), que não trabalharam com o
conceito em si, mas com muitas premissas que o antecedem.
Isso nos mostra que a teoria
da interseccionalidade tem estimulado diversas análises
e encorajado investigações reflexivas, críticas e responsáveis a
fim de combater as consequências estruturais desses poderes que criam relações
de subordinação, e, promover a adoção de políticas públicas eficazes de
inclusão social.
O embate antirracista brasileiro
engendrado mediante a busca pelo reconhecimento e valorização da mulher negra
tem alcançado, paulatinamente, vitórias ao longo dos anos. Ainda falta muito, é
claro, de forma principal em decorrência da afirmação cultural do
embranquecimento. É indispensável, assim, reconceitualizar quem é – ou se diz –
branco e como este debate da identidade pode colaborar nas discussões das
relações étnico-raciais. Isto porque a experiência de ser negra, no país,
somente tem consciência quem vivencia o histórico de discriminação, já que o
preconceito étnico ainda opera enquanto instrumento de revigoramento da
diferenciação.
É possível analisar, desse modo, que a
interseccionalidade “traduz as várias formas como raça e gênero interagem para
moldar as múltiplas dimensões das experiências” das mulheres negras, conforme
esclarece Crenshaw (2002, p. 177). A partir disso, pode-se compreender que a
utilização do termo como ferramenta de análise possibilita vislumbrar a
complexidade da vivência cotidiana, que cria um contexto híbrido e fluido onde
diferentes grupos existem, se articulam e empreendem mobilizações por melhores
condições. Tais lutas impossibilitaram isolar qualquer um dos fatores atuantes
na vida dos sujeitos, seja cor, etnia, gênero, classe social, idade e sexo.
Uma das principais controvérsias atuais no campo dos estudos do
trabalho e do gênero é a maneira de conceitualizar a interdependência
das relações sociais de raça, sexo e classe, que alguns designam por
"interseccionalidade", outros por "consubstancialidade”.
As dominações opressoras influenciam na luta das mulheres negras,
com sexismo, machismo, a visão do corpo da mulher como objeto, o próprio Estado
opressor o feminicídio e o patriarcado.
A
discriminação das mulheres negras no mercado de trabalho, homens brancos possuem
maiores salários e menores taxas de desocupação em todos os níveis de
escolaridade. Mulheres negras formam o grupo que enfrenta as piores condições.
“Os
limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”